terça-feira, 7 de abril de 2009

Meu pequeno príncipe


Esse fim de semana assisti a uma palestra sobre autismo em São Paulo, de uma francesa que citou O Pequeno Príncipe de Antoine De Saint-Exupéry. Cheguei em casa e reli o capítulo XXI. Neste capítulo o principezinho propõe a uma raposa que brinque com ele porque ele estava triste. Ela responde:
“... – Eu não posso brincar contigo. Não me cativaram ainda.
- O que quer dizer cativar?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa, significa criar laços.
...
- O que é preciso fazer? Perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal entendidos. Mas cada dia te sentarás mais perto...”

Você que tem um filhinho autista lembrou de alguém?
Tem mais:

“ No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas então ficarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade. Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.
- Que é um rito? Perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora das outras horas...”

Será que é por isso que nossos filhos gostam tanto de ritos? Para saberem a hora de preparar o coração? A grande maioria das terapias para tratamento de autismo salienta a importância da rotina, da seqüência, da previsibilidade. O Alexandre ama assistir TV de manhã, mas ele só pode depois de ter feito xixi, tomado suco e comido ovo. Então ele acaba o ovo e vai inquieto e agitado pegar o controle remoto e me entregar.

Será que a raposa do livro é autista?

Ou será que somente a raposa e os autistas lembram das coisas que já estão muito esquecidas?

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