sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Casa nova da vovó

De repente, a casa do vovô e da vovó ficou grande demais para os dois.  Então eles decidiram procurar um lugar menor para morar.
Tiveram o cuidado de não ir para um apartamento, pois nós, seus netos, estávamos acostumados com muito espaço na casa antiga.
Escolheram um lugar bem agradável, com um bom quintal para brincarmos e, o que a vovó achou melhor: é bem perto da minha casa, o que permite a ela nos ver com mais frequencia.
Minha primeira visita à casa nova não foi muito boa. Ela estava ainda totalmente vazia, e eu me recusei a entrar além da sala. Achei melhor ficar no carro esperando pela mamãe, enquanto ela percorria todos os cômodos.
A vovó ficou preocupada com essa minha atitude. Temia que eu não aceitasse a mudança. Mas, qual não foi a sua surpresa quando retornei à casa, dessa vez toda mobiliada e arrumada para nos receber. Eu adorei! Explorei cada espaço, procurei pelas coisas que me eram familiares, ri muito, subi e desci as escadas várias vezes com desenvoltura, mostrando que estava  muito à vontade e contente com tudo.
Mas o que eu mais curti mesmo foi a novidade da hora do banho. Na casa antiga nossos banhos eram de chuveiro e agora, a vovó tem uma deliciosa banheira de hidromassagem só para os netinhos!
A casa nova  da vovó pode ser muito legal, mas até agora, nada supera o delicioso banho de espuma que tomo toda vez que vou lá. 
 
 
MARILIA  R MASCARENHAS
marilia.ma@terra.com.br

sábado, 7 de agosto de 2010

Fofinho

O Alexandre está cada dia mais fofo. Está carinhoso, risonho e finalmente mais paciente com as pessoas. Quando ele quer alguma coisa, costuma nos pegar pela mão e usá-la para fazer por ele o que não consegue sozinho. Às vezes, ele vem pegar a minha mão e me dá uma preguiça de deixar o que estou fazendo para ir até onde ele está fazer alguma coisa por ele e depois ser dispensada. Porém vêm aumentando as vezes que ele vem pegar a minha mão e me senta no sofá para ver TV com ele ou me leva para a cama dele e me entrega um livro. Esses dias foi o máximo, ele estava brincando sozinho no quintal de casa como de costume quanto veio pegar minha mão. Eu achei que era para pegar água para a brincadeira, mas quando cheguei ele me sentou no chão ao lado dele! Eu fiquei super feliz tentando brincar junto, mas com a Heleninha no colo eu não estava conseguindo. Até que percebi que ele estava interessado na presença dela e parei de tentar brincar. Ficamos lá os três juntinhos. Aliás com ela também está fofíssimo. Balança o bebe conforto para ela rir, acha engraçado ela tomar chá, deita ao lado dela sempre que deixamos e quando passa por ela faz uma gracinha.

Essa semana voltou para a escola e no primeiro dia deve ter sentido nossa falta, porque saiu correndo na minha direção assim que me viu na hora da saída e depois do meu abraço entrou correndo no carro e ao invés de direto ligar o rádio como fazia, foi para o banco de trás ver a Heleninha e fez um carinho nela antes de ir ligar o rádio. Quem buscou na escola ontem foi a vovó Lila, vejam que bacana:

Uma tarde de muitas alegrias para a vovó

Ontem a vovó foi me buscar na escola. Quando chegou lá, eu estava de costas, brincando com areia e baldinho. A vovó comentou com a minha professora:
"Com balde e areia, ele nem vai me notar".
Primeira surpresa:
Quando eu ouvi a Ju chamando "Alexandre, a vovó chegou", eu imediatamente me virei, larguei tudo e fui correndo abraçar a vovó.
Então fomos para o carro, onde ela me avisou que não iríamos para casa, mas sim, para o consultório, buscar a mamãe. Como sempre faz, ela me deu meu copo de suco, para eu tomar no caminho. Eu falei "ssssss-co co co" e sorri para a vovó. Estava agradecendo, e ela disse "de nada!".
Segunda surpresa:
A vovó me pediu para lhe dar a mão. Ela sempre faz isso quando estamos no carro. Mas eu estava com as mãos ocupadas, tomando o meu suquinho. Então eu a encarei, peguei sua mão, entreguei-lhe o copo de suco e o peguei de volta. A vovó entendeu na hora que, do meu jeito, eu estava lhe dizendo que não podíamos ficar de mãos dadas enquanto eu precisava segurar o meu copo. E foi isso mesmo. Quando terminei, peguei carinhosamente a mão da vovó e foi assim que ficamos por um bom tempo.
Terceira surpresa:
O vovô, que estava na direção, teve que passar por alguns lugares antes de chegarmos ao consultório da mamãe. Quando o caminho era conhecido, eu relaxava. Mas quando ele pegava aquelas ruazinhas diferentes, eu imediatamente me levantava e ficava bem atento, olhando tudo e balbuciando alguns comentários. Finalmente, ao pegarmos o caminho para o nosso destino, eu já fiquei a postos, tomando conta para o vovô não sair da nossa rota. E quando desci do carro, sai correndo na frente, mesmo o vovô tendo estacionado longe. A vovó ficou boba com isso tudo. De quem será que esse menino herdou tamanho senso de direção? Certamente não foi dela, que se perde com facilidade, até mesmo dentro do shopping que freqüenta desde que meu pai era criança.
Quarta surpresa:
Entramos no consultório e a mamãe ainda estava ocupada. Enquanto esperávamos, a vovó e o vovô se sentaram na recepção, mas eu resolvi "explorar o ambiente". Então voltei, peguei a vovó pela mão e a levei a uma das salas de atendimento, onde minha irmãzinha dormia tranquilamente em seu carrinho. Eu a mostrei para a vovó e a puxei para sairmos de lá. Eu só queria que a vovó a visse, e não quis acordá-la.
Esse foi realmente um dia de muitas surpresas e muitas alegrias para a minha avó. Eu estou, a cada dia mais comunicativo, interagindo e atento a tudo.
Como diz a vovó: eu ainda não falo para não dar recado...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Minha Querida Casa Rosa

A turma do Cocoricó tem uma música que se chama "Meu Querido Paiol", que descreve o lugar onde as personagens moram e que adoram.
Eu poderia fazer o mesmo com a minha casa. Seria a "Minha Querida Casa Rosa".
Quando a mamãe me chama: "Vamos para a nossa casa rosa?", eu não penso duas vezes. Corro na frente e entro no carro.
Minha casa é o melhor lugar do mundo. É para onde eu gosto de voltar, depois de passar a tarde na escola, ou o fim de semana na casa da vovó.
É onde está o sofá mais gostoso e os melhores DVD's do mundo.
Lá tem a cama mais quentinha. E principalmente: é onde eu brinco com a mamãe, o papai e a Helena.
É onde tenho sempre o meu suquinho no canto da pia da cozinha e sempre alguém para me servir, no meu copo favorito.
É onde eu guardo os meus brinquedos, meus livros e instrumentos musicais - apitos, cornetas, bateria, bongô, cítara, flauta, gaita...
É onde meus carrinhos e meus dinossauros se misturam aos enfeites da sala, onde a mesa de centro foi substituida pela minha querida cama elástica.
É onde meus primos adoram ir passear, e não querem ir embora de jeito nenhum.
Que lugar lindo é esse que meus pais prepararam com tanto carinho para mim?
É a minha querida casa rosa... Minha querida casa rosa...

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Nunca foi tão bom ouvir falar no número dois

            Muitos pais me perguntam como eu tirei a fralda do Ale e como fazemos com o número dois. Tiramos a fralda aos 2 anos de idade usando as mesmas técnicas das outras crianças. A fase de tirar a fralda e ficar levando ao banheiro toda hora e oferecendo xixi ou cocô foi tranqüila. A próxima etapa que é a criança perceber sozinha quando está com vontade e pedir para ir ao banheiro é mais complexa.
            No caso do Ale, quando ele sente vontade e sabe onde é o banheiro, ele leva um adulto pela mão até lá e fica esperando. Fomos aos poucos o incentivando a abaixar a calça e a cueca sozinho. Atualmente, ele vai sozinho até o banheiro, abaixa a calça e faz xixi no vaso, mas às vezes molha a camiseta porque ele a prende embaixo do pescoço (decidiu isso sozinho) e ela cai ou ele simplesmente esquece a camiseta.
O cocô ele começa a fazer enquanto esta brincando ou vendo TV e um adulto o leva. Outras vezes ele pede e a maioria das vezes rola antes do banho quando eu sugiro. Ele já foi espontaneamente algumas vezes e eu cheguei só no final para limpar o bumbum.
Geralmente ele tenta puxar a descarga sozinho, mas como é dura eu ajudo.
Agora vem a boa notícia que inspirou este post: 
            Ontem o Ale estava deitado vendo TV, então olhou para mim e disse “cocô”. Eu o acompanhei  até o banheiro e ele realmente fez!
Tá certo que hoje de manhã ele disse de novo, mas dessa vez era suco. Acho que ele confundiu as palavras mas está tentando se comunicar falando!

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Bem vindo à Holanda!

Sou o primeiro neto de meus avós paternos. Eles adoram crianças e tiveram três filhos. Quando os três cresceram e começaram a namorar, o vovô e a vovó já começaram a planejar a vinda dos netinhos. Sonhavam em ver a casa cheia de crianças correndo e fazendo bagunça.

Então dá para imaginar a alegria deles com a minha chegada em sua vida.
Outro dia, uma conhecida perguntou para a minha avó como é ter um neto autista. Interessante: ninguem quer saber como é criar uma criança asmática ( a vovó teve 3!) ou uma criança com sério problema de visão (a vovó teve 1). Mas perguntas e comentários sobre autistas têm sido bastante frequentes. A vovó já se acostumou e nem liga mais.. Então, ela respondeu, inspirada por um lindo texto de Emily Perl Kingsley, que diz mais ou menos assim:
Preparar-se para a chegada de um bebê, é como se preparar para uma fantástica viagem de férias, muito desejada, para a Itália. Você compra livros a respeito do lugar que vai visitar, estuda a lingua, faz um roteiro dos passeios que quer fazer, compra roupas adequadas. Aí. chega o grande dia. Você faz as malas no maior entusiasmo, não se importa com o tumulto do aeroporto, e finalmente embarca para a viagem dos seus sonhos.
Quando o avião aterrissa, a comissária diz: "Senhoras e senhores, sejam bem vindos à Holanda".
Susto!
Holanda? Como assim? Eu deveria estar na Itália!
Sim, mas houve uma alteração no plano de vôo, e você tem que ficar na Holanda.
Vem aquela sensação de frustração e insegurança. É um lugar bem mais baixo e menos ensolarado que a Italia. Você então respira fundo e fica aliviada por o avião não ter descido num pais hostil, em guerra ou com alguma epidemia. É somente um lugar diferente do que você havia planejado visitar.
Então, você compra um guia da Holanda. Aprende a se comunicar nesse lugar e conhece um monte de gente que você nunca imaginou conhecer. É bem diferente da Italia, mas quando você começa a conhecer melhor, você descobre que a Holanda tem os moinhos de vento, tem aquelas casinhas lindas, tem tulipas, tem Rembrants, tem Van Goghs
A perda de um sonho é significativa. Mas se você passar a vida remoendo isso, você nunca estará inteiramente livre para apreciar as coisas belas e especiais que a Holanda tem e pode oferecer.






(Isto não é uma tradução. A vovó somente se baseou no texto para falar com aquela pessoa, que ficou meio sem jeito e sem assunto... O texto original pode ser encontrado na internet - Welcome to Holland, by Emily Perl Kingsley).






sexta-feira, 16 de julho de 2010

Objetos disponíveis?

Quando fizemos o curso do Son Rise aprendemos que deveríamos deixar as coisas que as crianças gostam mais em lugares altos para estimulá-las a pedir de alguma forma, gerando comunicação.

Empolgados, chegamos do curso e enchemos o quarto do Alexandre de prateleiras e nichos para colocar seus brinquedos favoritos. Nos nichos, colocamos uma etiqueta com a palavra que todos deveriam usar para se referir ao brinquedo relacionado para que toda vez que ele pedisse o adulto que entregasse falasse a mesma palavra para o brinquedo. A casa ficou mais arrumada, menos poluída visual e sonoramente.

Mas o tempo passou, ele não pedia os brinquedos e eles foram sendo esquecidos. Até que ele ganhou um carrinho de brinquedo meio grande, que por falto de espaço e preguiça de arrumar um, largamos no chão e um dia ele brincou (ver texto: brincando de carrrinho). Depois desse dia comecei a deixar um brinquedo ou outro disponível na sala e ele começou a brincar com eles.

Apesar de termos uma possibilidade de comunicação e interação social que são de fato o mais importante a se trabalhar com os autistas, estamos ganhando outras coisas que são interessantes. Ele puxa a cordinha do Woody para ele falar, desmonta o rosto do Sr Batata, toca instrumentos musicais e apitos, desmonta legos, etc. Eu gosto de vê-lo brincando de coisas tradicionais... deve desenvolver o raciocínio e a coordenação motora conforme diz a caixa dos brinquedos!

Não que o Sun Rise não funcione. Funciona sim e percebemos isso com o suco que é uma coisa que ele não se esquece se não estiver disponível. O Suco fica em cima da pia sempre no mesmo canto. Quando ele quer leva um adulto até lá pela mão. Toda vez que eu entrego falo a mesma coisa: Mamãe, eu quero suco! Su-co! Ele sabe que suco se chama suco e muitas vezes fala cu-cu ou ssssssssssss- cu quando quer muito.

Acredito que devemos unir as teorias e nossas experiências pessoais com bom senso em busca de um equilíbrio. Apesar de dizerem que os autistas não gostam de muito estímulo ambiental, ele está mais feliz com os objetos disponíveis... e minha casa voltou a ser uma bagunça como as outras casas onde moram crianças!

Amanda Baggs

Postado por: Marilia Ribeiro Mascarenhas (Avó do Alexandre)

Amanda Baggs é uma mulher que tem autismo. Deve ter uns  30 anos, não fala, é feia e desajeitada, cheia de comportamentos repetitivos estranhos e aparentemente bizarros. No youtube há um clipe dela, chamado My Life.  É lindo! Tem cerca de 10 minutos de duração e foi visitado tantas vezes que em março de 2008 a revista  norte americana Wired fez uma  longa reportagem com ela.
Essa mulher que não fala, usa roupas meio esquisitas, não faz contato visual e  precisa de ajuda para realizar pequenas tarefas como tomar banho, é capaz de se comunicar através de um computador numa linguagem rica e bem articulada. Ela digita 120 palavras por minuto e seus textos são reproduzidos pelo Dyna Vox, numa voz sintetizada (é o que a gente ouve na segunda parte do vídeo, chamada  " Tradução"). Isso mesmo: ela, que precisa de ajuda para fazer o seu próprio almoço, consegue escrever textos belíssimos e provocativos, que vêm chamando a atenção  não só dos internautas autistas (que fazem parte de uma comunidade altamente informatizada), como também, de cientistas, educadores,  estudiosos e curiosos.
Algumas frases "ditas" por Amanda Baggs na entrevista concedida à revista Wired::
"Tenho dito milhares de vezes que não sou prisioneira em meu próprio mundo". 
"Essa forma de estímulos não verbais constituem minha 'língua nativa'. Isso não é melhor nem pior do que a língua falada. Já a minha falha na linguagem é vista como deficiência, enquanto a falha de outras pessoas em aprender 'minha língua' é vista como natural e aceitável."
"Havia um considerável número de web sites do orgulho gay. Eu invejava aquela quantidade e desejava que houvesse algo igual para o autismo. Agora há. A mensagem: Nós estamos aqui. Nos somos esquisitos. Habitue-se a isso."
Na reportagem, Amanda Baggs informa que está preparando outro clipe ao som de "Under Pressure", do Queens (é... além de inteligente ela tem bom gosto!). É uma montagem de imagens mostrando comportamentos como apertar o botão da caneta ininterruptamente, girar os polegares, batucar com os dedos na mesa. A mensagem: por que alguns comportamentos de estresse são socialmente aceitáveis enquanto outros, como os comumente associados ao autismo, não são? 
O fim da reportagem é que é mais maravilhoso. A repórter pergunta: "O autismo deve ser tratado?"
A resposta de Amanda Baggs: "Sim, deve ser tratado com respeito. As pessoas não estão interessadas em que nós funcionemos com o cérebro que temos, porque o autismo é encarado como fora da normalidade. O importante é que nós encontramos força onde outros normalmente encontram deficiências."
Idéia provocativa... mas... ela tem razão.  


quinta-feira, 1 de julho de 2010

Woody

O Alexandre ele começou a gostar do Woody, personagem principal do desenho Toy Store, em uma loja de brinquedos quando a animação estava no primeiro filme. De cara, achamos que era por causa do violão que vinha acompanhando o boneco e compramos. Quando chegou em casa, percebemos que ele associava ao cantor Paulo Tatit do grupo Palavra Cantada (seu preferido) e começamos a brincar com o Woody como se ele fosse o Paulo e seu violão. Até que quando ele assistiu ao filme, reconheceu o Woody. Eu passei a investir no tema.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Festa Junina 2010

Para filho de bailarina, o cara deixou a desejar na dança, mas arrasou no seu traje de “Woody”! Nosso pequeno xerife chegou causando na Festa Junina da escola este ano. Queria brincar com água e areia nas mesas de comida das pessoas e eu cheguei a pensar em ir embora. Respirei fundo, criei coragem e dei um copo com água e um baldinho para ver se ele “matava as bixas” e desencava. Deu certo!

Ele ficou uns 20 minutos nessa atividade e logo foi brincar pela escola com os... AMIGOS??? Siiiiiiiiim!!! Parece sim estar rolando uma certa interação.

Quando chegamos ao balanço, imediatamente um amiguinho veio balançá-lo. Ele gostou bastante e os dois pareciam já estar habituados com a brincadeira.

Mais tarde, o Ale ficou olhando um escorregador bem alto que tem na escola. Eu perguntei para um amigo da sala dele se meu filho costumava brincar lá. Ele me disse que nunca ia porque tinha medo lá de cima. Então, eu pedi para o amigo subir e esperar o Ale lá e levei-o até a escada. Ele subiu e foi logo amparado pelo amigo, que já o ajudou a escorregar. E assim os dois ficaram por mais meia dúzia de escorregadas compartilhadas. Na reunião, aprofessora disse que ele esta ficando mais com as crianças.

O ano passado, o Ale só curtiu o sanfoneiro (veja o texto Festa junina pelos olhos da avó), já este ano deu uma olhada nos instrumentos, mas quiz mesmo aproveitar a festa! Tô começando a achar que puxou a veia festeira da mamãe. Quem sabe um dia não vira pé de valsa.

Ah, as fotos são da Júlia! Valeu Jú!

terça-feira, 29 de junho de 2010

Contato visual

A minha avó cresceu ouvindo a minha bisa dizer que pessoas que não nos olham nos olhos são mentirosas e dissimuladas. A vovó sempre acreditou nisso, repetiu isso para os filhos e sempre que conversavam ela exiga que eles a encarassem. Quando achava que um deles estava mentindo ela dizia: "Repita isto, olhando nos meus olhos!". Sempre funcionava. O meu pai e meus tios nunca disseram uma mentira encarando a minha avó.



Com o passar dos anos, a vovó descobriu que muitas pessoas mentirosas conseguem, sim, mentir olhando bem nos olhos do interlocutor. Descobriu também que nem todo mundo que não encara o outro, o faz por ser mentiroso ou dissimulado. Há pessas muito tímidas, que mantêm os olhos baixos; outras preferem conversar apreciando a paisagem ou até vendo a própria imagem refletida num espelho ou num vidro (que vaidosas!). Há os deficientes visuais. E há aqueles como eu, que simplesmente não gostam de olhar para as pessoas. Assim, caiu por terra a teoria da minha bisavó.


Mas a vovó Lila continua achando o contato visual muito importante. Por exemplo, numa entrevista de trabalho, o entrevistado que der suas respostas olhando para o entrevistador, levará vantagem sobre aquele que se mantiver de olhos baixos ou com o olhar vago de quem está olhando para o nada.


Então, ela trabalha muito isso comigo. Inventa um monte de brincadeiras que me fazem olhar para ela. Como aquela que a gente faz no balanço, que eu contei aqui, dias atrás. Nas nossas bincadeiras de esconde-esconde, de pular na cama dela, de água e areia, ela sempre dá um jeito de fazer nossos olhos se encontrarem. Às vezes, ela tampa seus dois olhos com as mãos (fica me olhando por um buraquinho entre os dedos) e pergunta "Cadê o Alexandre?" Isso não falha nunca! E toda vez que eu olho para ela, ela faz comentarios como:


"Que olhos lindos você tem!",


"Obrigada por me olhar assim!",


"Adoro quando você me olha".


"Tá me olhando, hein?"


Esses comentários me motivam e me fazem mais seguro. (Isso a vovó aprendeu lendo livros do SonRise).


Os meus contatos visuais estão cada vez mais frequentes. E eu sei que com isso, deixo a vovó muito feliz.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Quelação

Trata-se de uma terapia simples e utilizada há vários anos com muito sucesso por milhares de famílias nos Estados Unidos e Europa. Consiste num protocolo de administração de agentes queladores, produtos capazes de se agregarem a minerais tóxicos e excretá-los do organismo através das fezes e urina. No Brasil, esta terapia ainda é nova, enquanto que em outros países já é utilizada com muito sucesso há alguns anos e os profissionais indicados para acompanhamento seriam os médicos ortomoleculares.

No caso do Alexandre quem está acompanhando é a pediatra nova dele. Sabíamos da existência do método há alguns anos, mas decidimos esperar  ele ter 5 anos de idade para começar.


Ele tomou os agentes queladores por 20 dias em maio e no último dia coletamos urina para análise de alumínio, chumbo e mercúrio. Era esperado encontrar até um micrograma por litro (ug/l) de chumbo e o dele foi menor que isso, 2 ug/l de mercúrio e ele apresentou 3 ug/l e o mais assustador 1 ug/l de alumínio e ele apresentou 231 ug/l.

A má notícia é que ele vai ter que fazer uma nova quelação até esse 230 ug/l desaparecer e a boa notícia é que dá uma esperança enorme dele estar curado neste dia!!!

Como o Ale tá doentinho vamos ter que esperar um pouco para a segunda dose, pois a quelação elimina também minerais bons e úteis do organismo. Por isso a pessoa tem que estar muito bem antes de começar. No caso dele demos uma caprichada nas vitaminas diárias dele um mês antes de iniciar.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Meu fim de semana com a vovó Lila

Sábado, dormi na casa da vovó. Foi uma delicia e sei que dei a ela muitas alegrias. A primeira foi eu ficar gritando "vovó" quando cheguei na casa dela. Eu tenho feito isso com certa frequencia. Quando chego na porta da casa da vovó, chamo por ela - um gritinho bem alto e fino. Ela adora!


A gente brincou bastante e dormimos abraçadinhos, outra coisa que a deixou muito feliz.


Domingo, a gente passeou no parque. Eu estava muito alegre, corri muito, brinquei na areia. Na pista de corrida, resolvi me sentar no chão, e quando passou uma senhora que fazia caminhada, eu lhe disse: "Oi!", olhando para ela. Ela respondeu ao meu cumprimento, achando muito bonitinho.É claro, meus avós ficaram orgulhosíssimos! A minha professora da escolinha está insistindo muito para eu dizer "oi", e eu estou correspondendo bem às suas espectativas. Tenho cumprimentado meus primos, a vovó, o vovô e algumas pessoas.


Existe uma brincadeira que a vovó faz comigo e com meus primos, que nós todos achamos muito legal. Ela nos coloca no balanço, empurra-nos bem alto enquanto canta uma musiquinha que ela inventou. No meio da música, ela pára, segura nossos pés com força e diz: "Olha para a vovó!" Então, a gente fixa bem os olhos nela, e ela grita: "Que olhos lindos você tem!", solta-nos e começa tudo de novo. A gente se diverte bem, e a vovó fica muito contente de eu olhar bem nos olhos dela. Meus primos e eu gostamos muito dessa brincadeira. Domingo, a gente brincou disso, mas teve uma hora em que me cansei, e quando a vovó pediu que eu olhasse nos olhos dela, eu fechei os meus olhos, bem fechadinhos, fazendo-a dar boas gargalhadas, divertindo-se com a minha iniciativa de variar a brincadeira.


À tarde, teve jogo do Brasil e como a vovó e eu não gostamos de futebol, fomos brincar mais. Fomos para a varanda da casa dela, um lugar, até então, muito pouco explorado por mim. Eu adorei ficar ali, correndo, gritando, vendo passarinhos voando assustados com os fogos. Depois do jogo, meus pais vieram me buscar.


Foi gostoso ficar o fim de semana com a vovó e o vovô mas eu já estava com saudades. Prova disso foi a forma alegre e carinhosa como abracei e beijei a mamãe, o papai e a minha querida irmãzinha.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

2010

Queridos seguidores,

Desculpem nosso longo período de resguardo. O Alexandre ganhou finalmente sua irmãzinha e só agora que ela completou 3 meses acreditamos que as atividades da família se normalizaram. Ele parece gostar dela. Costuma mexer com ela, faz carinho, tenta beijar/morder, observa tudo o que ela faz e o que fazemos com ela, tenta pegá-la no colo e morre de rir quando ela chora. Quando ela chora e estamos longe ele é o primeiro que corre para vê-la chorar de perto, sempre dando muita risada, mas ele ri gostoso mesmo quando é ele o causador do choro. Parece que ele gosta de vê-la interagindo de qualquer forma, como se não soubesse que ela chora por um desconforto mas sim porque simplesmente é isso que bebês fazem.
O que está interessante é que o comportamento todo dele mudou muito. Ele era relativamente solitário, silencioso e ficava muito tempo em suas atividades preferidas, em isolamento. Agora ele está hiperativo, extremamente barulhento (apesar de não falar), troca muito de atividade, explora a casa toda o tempo todo, leva as pessoas para ver TV com ele, ou para brincar na cama elástica, ou para ficar abraçadinho para esquentá-lo. Quando ele vai para a escola a casa fica tão fazia e quieta que dá até medo!
Ainda não sabemos se as mudanças são por causa da Helena, por causa de algum tratamento ou ainda por cauda da idade mesmo e principalmente ainda não sabemos se são mudanças positivas ou não.
O tratamento mais diferente que ele fez nesse período foi a quelação. Ele tomou o quelante por 20 dias, fizemos um exame de urina para saber o resultado e estamos aguardando. A quelação está sendo acompanhada pela nova pediatra, que é também nutróloga e acompanha muitas crianças autistas. Ela mudou algumas vitaminas americanas por semelhantes manipuladas no Brasil.
Atualmente ele freqüenta a ADACAMP (associação de desenvolvimento do autista de campinas) duas vezes por semana, com fonoaudióloga, terapeuta ocupacional e psicopedagoga, faz equoterapia uma vez por semana, reorganização neuro funcional uma vez por semana e freqüenta pré escola meio período diariamente.
Em casa estamos tentando fazer sun rise durante a semana, sábado de manhã ele brinca com a Ju e domingo folga total ( de todo mundo!!!). Continuamos com a dieta do glútem e da caseína, com a dieta do IGG dele, com suplementação de vitaminas e minerais.
Atualizaremos o blog semanalmente e contamos com trocas de experiências e boas idéias de todos que as tiverem!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Somos todos autistas, a gradação está nos rótulos

Scheilla Abbud Vieira

Quando me recuso a ter um autista em minha classe, em minha escola, alegando não estar preparado para isso, estou sendo resistente à mudança de rotina.


Quando digo a meu aluno que responda a minha pergunta como quero e no tempo que determino, estou sendo agressivo.


Quando espero que outra pessoa de minha equipe de trabalho faça uma tarefa que pode ser feita por mim, estou a usando como ferramenta.


Quando, numa conversa, me desligo, "viajo", estou olhando em foco desviante, estou tendo audição seletiva.


Quando preciso desenvolver qualquer atividade da qual não sei exatamente o que esperam ou como fazer, posso me mostrar inquieto, ansioso e até hiperativo.


Quando fico sacudindo meu pé, enrolando meu cabelo com o dedo, mordendo a caneta ou coisa parecida, estou tendo movimentos estereotipados.


Quando me recuso a participar de eventos, a dividir minhas experiências, a compartilhar conhecimentos, estou tendo atitudes isoladas e distantes.


Quando nos momentos de raiva e frustração, soco o travesseiro, jogo objetos na parede ou quebro meus bibelôs, estou sendo agressivo e destrutivo.


Quando atravesso a rua fora da faixa de pedestres, me excedo em comidas e bebidas, corro atrás de ladrões, estou demonstrando não ter medo de perigos reais.


Quando evito abraçar conhecidos, apertar a mão de desconhecidos, acariciar pessoas queridas, estou tendo comportamento indiferente.


Quando dirijo com os vidros fechados e canto alto, exibo meus tiques nervosos, rio ao ver alguém cair, estou tendo risos e movimentos não apropriados.



Somos todos autistas. Uns mais, outros menos. O que difere é que em uns (os não rotulados), sobram malícia, jogo de cintura, hipocrisias e em outros (os rotulados) sobram autenticidade, ingenuidade e vontade de permanecer assim.