terça-feira, 29 de junho de 2010

Contato visual

A minha avó cresceu ouvindo a minha bisa dizer que pessoas que não nos olham nos olhos são mentirosas e dissimuladas. A vovó sempre acreditou nisso, repetiu isso para os filhos e sempre que conversavam ela exiga que eles a encarassem. Quando achava que um deles estava mentindo ela dizia: "Repita isto, olhando nos meus olhos!". Sempre funcionava. O meu pai e meus tios nunca disseram uma mentira encarando a minha avó.



Com o passar dos anos, a vovó descobriu que muitas pessoas mentirosas conseguem, sim, mentir olhando bem nos olhos do interlocutor. Descobriu também que nem todo mundo que não encara o outro, o faz por ser mentiroso ou dissimulado. Há pessas muito tímidas, que mantêm os olhos baixos; outras preferem conversar apreciando a paisagem ou até vendo a própria imagem refletida num espelho ou num vidro (que vaidosas!). Há os deficientes visuais. E há aqueles como eu, que simplesmente não gostam de olhar para as pessoas. Assim, caiu por terra a teoria da minha bisavó.


Mas a vovó Lila continua achando o contato visual muito importante. Por exemplo, numa entrevista de trabalho, o entrevistado que der suas respostas olhando para o entrevistador, levará vantagem sobre aquele que se mantiver de olhos baixos ou com o olhar vago de quem está olhando para o nada.


Então, ela trabalha muito isso comigo. Inventa um monte de brincadeiras que me fazem olhar para ela. Como aquela que a gente faz no balanço, que eu contei aqui, dias atrás. Nas nossas bincadeiras de esconde-esconde, de pular na cama dela, de água e areia, ela sempre dá um jeito de fazer nossos olhos se encontrarem. Às vezes, ela tampa seus dois olhos com as mãos (fica me olhando por um buraquinho entre os dedos) e pergunta "Cadê o Alexandre?" Isso não falha nunca! E toda vez que eu olho para ela, ela faz comentarios como:


"Que olhos lindos você tem!",


"Obrigada por me olhar assim!",


"Adoro quando você me olha".


"Tá me olhando, hein?"


Esses comentários me motivam e me fazem mais seguro. (Isso a vovó aprendeu lendo livros do SonRise).


Os meus contatos visuais estão cada vez mais frequentes. E eu sei que com isso, deixo a vovó muito feliz.

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